Em busca de um sonho, o de se tornar goleiro profissional de futsal. Foi com este pensamento que o jovem Shin Inano, de apenas 16 anos, decidiu vir ao Brasil para realizar treinamentos específicos com um dos melhores treinadores de goleiros do país, o Ademir Biesdorf, da Copagril/Sempre Vida/Penalty/Marechal Rondon Futsal, e de poder vivenciar a rotina de um atleta de alto rendimento, bem como ter que viver longe da família e dos amigos, abrir mão de finais de semana e feriados, treinar e se dedicar integralmente ao esporte.
Natural da região de Ota-Ku, em Tóquio, Shin começou no futsal aos 12 anos de idade, no ano de 2011, na escola, e relata como foi seu início no esporte. “Em 2012 comecei a treinar no Bardral Urayasu, equipe que joga a F-League, a liga profissional de futsal do Japão. Iniciei nas categorias de base, mas já realizando treinos específicos de goleiros, três vezes por semana, com o Toru Kitano. Atualmente faço parte da equipe B do Bardral. É bom para mim pois Urayasu fica perto de Tóquio onde eu moro, e posso ir e voltar todos os dias”, comentou.
Sobre a rotina no Bardral atualmente ele relata que treina em apenas um período por dia, cinco vezes por semana, de segunda a sexta-feira, e os jogos são realizados aos sábados ou domingos. Lá a cada 15 dias os jogadores têm uma folga na quarta-feira. Ele concilia a rotina de atleta com os estudos, pois ainda não terminei o ensino médio. Ainda, três vezes por semana tem treino específico com o Toru, que é treinador de goleiros.
A vinda ao Brasil
O jovem goleiro japonês veio ao Brasil, em específico no time da Copagril, devido ao atual preparador físico do time da Copagril, Harrison Muzzi Rodrigues. “Meu treinador de goleiros fez um estágio no Brasil, há muitos anos, no Tio Sam, onde conheceu o Harrison. Ele esteve um ano no Rio de Janeiro e aprendeu muito sobre futsal e também a falar português. Quando eu disse que queria aprender mais para ser um bom goleiro no futuro ele me falou para eu ir para o Brasil para aprender com os melhores. Foi então que o Toru fez contato com o Harrison, inicialmente para ir treinar no Carlos Barbosa, mas depois vim para a Copagril”, contou.
O preparador físico da Copagril, Harrison Muzzy, explica os motivos do goleiro vir a Marechal fazer o estágio. “Eu conheço o Toru desde 1997, é um grande amigo que fiz no futsal. Quando ele me ligou para falar sobre o Shin, queria mandá-lo para Carlos Barbosa, pois eu tinha trabalhado lá por 10 temporadas e conheço todo mundo lá. Mas, logo pensei que seria muito bom ele vir para a Copagril, pois aqui a estrutura também é excelente e nós temos um grande treinador de goleiros que é o Ade. Além disso, eu poderia monitorar de perto tudo o que estava acontecendo. Por se tratar de um menor de idade a preocupação aumenta”, explicou.
Conforme Harrison, o Toru já tinha visto vídeos dos treinos do Ade no YouTube e seguia o trabalho dele, por isso também achou melhor o Shin vir para a Copagril. “Eu trabalhei na seleção japonesa de futsal e isso deu credibilidade. Fiquei feliz com a confiança depositada em mim e agradeço a diretoria da equipe da Copagril por abraçar a ideia e ter autorizado a vinda do atleta. Todos saem ganhando, a Copagril terá seu trabalho e organização divulgados do outro lado do mundo e o atleta sairá daqui com um aprendizado para o resto da vida, não só no âmbito esportivo”, destacou.
A chegada ao Brasil e a adaptação
Como foi sua chegada ao Brasil e sua adaptação?
Segundo Shin, para chegar ao Brasil é uma viagem longa e cansativa. Ele saiu do aeroporto de Narita rumo a Abu Dhabi. Foram sete horas de voo, depois aguardou seis horas no aeroporto, para pegar o voo rumo a Guarulhos, com duração de 14 horas. O goleiro fez um pernoite em São Paulo e no outro dia pegou voo para Cascavel, e como a instabilidade do tempo não era propícia para pousar em Cascavel, o avião foi para Foz. De lá, ele foi colocado em um ônibus com destino a Cascavel, onde o Harrison estava esperando ele. “Ainda bem que a tecnologia ajudou. Desde a minha chegada em São Paulo estava conversando com o Harrison pelo Whatsapp, com o auxílio do google tradutor, pois eu não sabia nada de português e meu inglês é de nível escolar”.
Shin conta que, assim que chegou em Marechal Rondon, Harrison e a esposa convidaram Shin para ir à casa deles e, durante o jantar, se desesperou e começou a chorar de saudade da mãe. “É minha primeira vez fora do Japão e longe dela. Também fiquei desesperado por não saber me comunicar em português, achei que não conseguiria aprender nada aqui. As duas primeiras noites dormi na casa do Harrison, pois me senti seguro com eles. Ele e a esposa me deixaram calmos, conversaram muito comigo e me senti em casa. Depois o Toru me ligou e me deu uma bronca (risos), disse que eu tinha objetivos aqui e então fui para o apartamento onde moram o João Neto, Djaelson e o Xande, todos me ajudaram muito na adaptação aqui, me transformei numa espécie de mascote do time. Fui muito bem recebido pelo time e a equipe técnica, todos foram atenciosos e legais comigo”, frisou.
Perguntado sobre a comida do Brasil, ele diz que é muito boa. “Gostei muito de comer pão de queijo, xis salada, feijão, bife à parmegiana, mas não gostei da feijoada. Adorei ir no aniversário do filho do Ade, tinha um monte de salgadinhos e docinhos que eu nunca tinha comido. No meu país só tem torta e refrigerante nos aniversários”.
Os treinamentos
O estagiário japonês avalia os treinos do Ade como muito bons. “Estou aprendendo muito, mas fico cansado pois não estava acostumado com esta intensidade de treinar duas vezes por dia. Agora não tenho mais dificuldade para dormir (risos). O Ade fez algumas correções onde tenho maiores dificuldades e vai passar um relatório para o meu treinador no Japão. Aqui até tive a oportunidade de jogar um amistoso com a equipe sub-17”.
A estada na Copagril
Na opinião de Shin, a equipe da Copagril é muito organizada, tem boa estrutura, bom ginásio e os profissionais são muito competentes. “No Japão não temos esta estrutura com supervisor, treinador, preparador físico, treinador de goleiros, mordomo, fisioterapeuta, aqui é tudo muito organizado. Agradeço a todos da Copagril por terem me recebido tão bem, tive experiências incríveis aqui e bons amigos também”, ressaltou Shin.
Para o treinador de goleiros da Copagril, Ademir Biesdorf, foi uma ótima experiência poder ensinar um jovem goleiro que veio de tão longe que veio para aprender trabalhos específicos. “Para mim, ele é um exemplo para os jovens, muito dedicado e focado em seus objetivos. Também aprendi muito com ele, sobre as tradições, crenças, a educação e disciplina durante os treinos, realmente fantástico”, afirmou.
Um detalhe que chamou a atenção de Ade foi o respeito que o goleiro japonês tem com o professor (treinador). “Sempre curvando a cabeça quando chega e quando vai embora, sempre falando na língua japonesa 'muito obrigado mestre'. Foi muito valiosa essa experiência”.
Sobre a parte técnica, Ade disse que Shin evoluiu muito no período que permaneceu na Copagril, lugar que escolheu para aprender. “Tenho certeza que ele levará essa experiência pelo resto da vida. E espero que ele tenha sucesso na carreira, pois potencial ele tem. Agradeço ao clube dele do Japão pela confiança depositada em meu trabalho”, enfatizou.
O futuro do goleiro
Amanhã (12) ele volta ao Japão, pois as férias escolares estão acabando. “Vou continuar me dedicando muito lá, pois quero ser goleiro profissional, viver do futsal. Mas antes pretendo voltar ao Brasil, se possível no Carlos Barbosa e no Corinthians. E também quero ir ao El Pozo Murcia da Espanha para realização de outros estágios. Em abril de 2018 termino meus estudos e até lá vou seguir fazendo estágios no futsal. Gostaria de jogar na equipe principal do Bardral Urayasu, mas vou com o Toru Kitano onde ele estiver, ele é meu mestre. Também gostaria de ser convocado para a seleção japonesa sub-18 no ano que vem”, finalizou.