Com frequência ouvimos o conceito “Agricultura 4.0”, um termo que está cada vez mais em evidência no agro e em todos os processos da cadeia de produção no campo, mas afinal, o que realmente é Agricultura 4.0 e como isso impacta e ainda poderá impactar no dia a dia do homem do campo e nos processos produtivos?
Comecemos pelo conceito, a Agricultura 4.0 é um termo derivado da Indústria 4.0, aplicada a agricultura, com foco no uso de tecnologia de ponta na produção de alimentos. É o conjunto de ferramentas digitais conectadas por meio de softwares, sistemas e equipamentos com o objetivo de otimizar a produção agrícola em todas as etapas, de modo a gerar maior produtividade, reduzir custos e fortalecer os modelos de segurança alimentar.
Os sistemas vão da biotecnologia à alta conectividade com precisão e controle de produção, os quais objetivam reduzir substancialmente as fragilidades da agricultura, trazendo maior controle e previsibilidade de volume de safra, que somada a conectividade, a chamada “internet das coisas”, acompanhará o ritmo da produção agroindustrial, do campo ao consumidor final, melhorando a gestão de estoques e provisões.
“A tecnologia empregada no campo foi determinante para que a agricultura brasileira alcançasse o patamar atual. A evolução é contínua e agora se consolida uma nova era de tecnologia agrícola. Hoje já não existe mais separação entre os mundos físico e virtual, conectados para facilitar a vida das pessoas. Por trás dessa ideia está o conceito da Agricultura 4.0 (Agro 4.0), também chamada de agricultura digital”, descreve a doutora em Computação Aplicada e pesquisadora da Embrapa Informática Agropecuária, Silvia Massruhá, em seu artigo Agro 4.0 – Rumo à Agricultura Digital, escrito em conjunto com a também pesquisadora da Embrapa Maria Andrade Leite.
O desenvolvimento e avanço do uso internet, aliada a incorporação de tecnologia e aperfeiçoamento por meio de novos sistemas, equipamentos e conjuntos técnicos incorpora novas mudanças em equipamentos e máquinas de uso regular, que tem por objetivo produzir com eficácia de modo a tornar todo o processo mais eficiente, ou seja, do solo à industrialização e da semente ao produto, mais qualidade, mais resultados e menores custos.
Derivada e alinhada ao desenvolvimento industrial, a Agricultura 4.0 faz uso de métodos também empregados na indústria 4.0, englobando a agricultura e a pecuária de precisão, a automação e a robótica agrícola, além de técnicas de bigdata e internet das coisas. Alguns profissionais do ramo ainda descrevem o Agro 4.0 como fazenda digital e fazenda inteligente, diferentes terminologias para descrever a integração das tecnologias e inovações de modo a auxiliar a tomada de decisões e gestão rural na propriedade, indústria e logística. Tudo com o propósito de elevar os índices de produtividade, reduzir custos com mão de obra, melhorar a qualidade do trabalho e a segurança dos trabalhadores, criar insumos mais eficientes e diminuir os impactos ao meio ambiente, como explicam as pesquisadoras da Embrapa.
Conjunto de tecnologias
Com o avanço da tecnologia de quarta geração (Agro 4.0) novas ferramentas e práticas são introduzidas na produção agropecuária, a grande expectativa em relação ao desenvolvimento é a capacidade de coletar, trocar e usar dados e medição sobre a produção: qualidade do solo, níveis de irrigação, clima, presença de insetos e pragas. Ou seja, levantar os dados e informações em tempo real, mensurar e traduzir de forma que estejam disponíveis ao usuário (produtor) de forma clara, afim de proporcionar as melhores decisões sobre ações realmente efetivas.
O conjunto de tecnologias que compreendem a Agricultura 4.0 oferece amplas aplicações nas mais diversas atividades. Com tecnologias de base para a gestão em todas as etapas dos processos de produção agrícola e uso de máquinas automatizadas que elevam os resultados das operações, independentemente da escala da propriedade e produção. Sensores, câmeras e dispositivos de georreferenciamento oportunizam o controle sobre os procedimentos, facilitando a tomada de decisões, mesmo à distância. Softwares conectados às maquinas e comunicação via satélite que geram informações em tempo real de cada componente, evitando desperdício e erros passáveis pela ação humana.
O trunfo da Agricultura 4.0 é oferecer dados e ferramentas ao produtor rural para as operações do dia a dia, tornando as etapas de produção mais fáceis de serem planejadas, realizadas e monitoradas. Como é o caso de atividades tecnológicas em testes e já no campo, que deverão ganhar cada dia mais espaço e mais uso nas propriedades rurais.
O uso de drones já não é mais novidade, mas a aplicação e mensuração real e efetiva ainda têm muito “campo” para avançar, entre as possibilidades estão a identificação com maior precisão dos problemas na plantação, como doenças, falhas, deficiências em irrigação e solo - erosão e assoreamento de rios -, bem como o ato de correção propriamente dito.
A biotecnologia já trouxe maior praticidade ao dia a dia, como é o caso da evolução das cultivares, e esse processo de pesquisa e melhoria recebe cada vez mais aporte de novas tecnologias, aperfeiçoando as plantas e analisando a forma como são afetadas por pragas e clima. Também é a biotecnologia e evolução da agricultura que favorecem ação de insumos e defensivos mais efetivos, o que refletirá em menos aplicações com mais resultados efetivos.
O GPS combina informações sobre latitude e longitude e quando incorporado ao sistema das máquinas cria uma gama de possibilidades de automação e análise gerencial. Entre as possibilidades já aplicadas e em processo de melhoramento estão o piloto automático que, por meio de sensores e sistemas, automatizam o direcionamento das máquinas na lavoura. Assim como os dados do GPS permitem delimitar espaços da propriedade para analisar e tratar infestações de pragas, insetos e plantas daninhas, bem como avaliar as condições do solo, e assim guiar de modo automático a aplicação de defensivos.
No campo
A Agricultura 4.0 é real nas mais diversas ações realizadas na propriedade rural, seja na automação ou tecnologias que melhoram os resultados. De várias as formas estamos integrando as inovações em nossos processos produtivos e todos, mesmo que as vezes inconscientemente, seguimos para o modelo da quarta geração, que é produzir mais, com mais qualidade e eficiência, usando os recursos naturais de modo sustentável, com visão na segurança alimentar, manutenção da força e fontes produtivas.
Esse processo é uma evolução diária onde um dos grandes desafios para empresas, instituições, pesquisadores e órgãos de coordenação é fomentar o desenvolvimento da infraestrutura e a oferta de serviços técnicos de atendimento e também de formação de mão de obra. Assim, oportunizando ao produtor tecnologias de baixo custo e de qualidade com capacitação técnica e operacional de uso prático para transformar dados em resultados no campo.
A Agricultura 4.0 é um tema presente em nosso meio e com ampla estrutura, como destacado, com as mais diversas aplicações em máquinas e/ou procedimentos e em todas as atividades, na agricultura, pecuária, produção e industrialização. Seguimos para um modelo de produção digital, mas que precisa da união entre experiência do homem do campo e novos modelos para tornar bits em grãos e metadados em produção de alimento.
*Matéria divulgada na Revista Copagril Edição 112 (setembro/outubro). Você pode conferir o conteúdo original aqui (CLIQUE AQUI).