Notícias

Programa Crédito de Carbono Copagril constrói um legado do cooperativismo para um futuro sustentável

Compartilhar

Tadeu Lewandowski, 62 anos, nunca teve a pretensão de ser aplaudido. Produtor rural no distrito de São Roque, município de Marechal Cândido Rondon, interior do Paraná, ele cultiva soja, milho e produz frangos de corte no sistema de integração cooperativista.
Produzir alimentos é uma missão herdada do pai, Venceslau (in memoriam), e que agora é ensinada para o filho Juliano, 25 anos. Três gerações de agricultores que aderiram ao modelo de união cooperativista com a finalidade de viabilizar suas atividades no campo e prosperar em família.
O cooperativismo tem construído um mundo melhor desde 1844, quando os Pioneiros de Rochdale, na Inglaterra, lançaram as bases de um movimento que transformou a economia mundial, colocando a cooperação e a solidariedade acima da competição predatória.
Quase dois séculos depois, esse mesmo espírito cooperativo ganha novas formas no campo da agricultura sustentável, no Brasil, com o Programa Crédito de Carbono Copagril.

Da agricultura rudimentar ao manejo sustentável
Na Inglaterra em meados do século XIX, a agricultura era marcada pelo uso intensivo do solo, pouca preocupação com a conservação ambiental e praticamente nenhuma visão sobre emissões de gases do efeito estufa. O foco era a produção em escala para alimentar a população urbana em rápido crescimento devido à Revolução Industrial. Técnicas como a queima de restos culturais e o revolvimento profundo do solo aumentavam a liberação de carbono estocado na terra para a atmosfera.
No Brasil da mesma época, práticas semelhantes predominavam: queimadas, desmatamento para abertura de áreas agrícolas e baixo uso de técnicas de conservação do solo. Esse modelo de produção, apesar de garantir alimento, contribuiu para processos de degradação ambiental e aumento das emissões de CO₂.
Hoje, a realidade é outra. O manejo agrícola integrado — que envolve rotação de culturas, plantio direto, recuperação de pastagens degradadas, uso racional de insumos e integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) — representa um avanço tecnológico que reduz significativamente as emissões de carbono, ao mesmo tempo em que aumenta a produtividade.

O Programa de Crédito de Carbono Copagril
É nesse cenário que o Programa Crédito de Carbono Copagril ganha protagonismo. A iniciativa incentiva produtores rurais a adotarem práticas sustentáveis que capturam ou reduzem emissões de CO₂, transformando esses resultados em créditos comercializáveis no mercado regulado de carbono.
Funciona assim: produtores com a documentação ambiental em dia podem se habilitar ao programa. Seguindo as premissas do mercado regulado, durante todo o ciclo de cada safra de soja e de milho é realizado sensoriamento via satélite de todas as etapas de produção, visando elaborar um inventário de emissões e retenções de carbono na propriedade.
A utilização de maquinários é exemplo de prática com emissões, enquanto o plantio direto proporciona retenção de CO₂ no solo. O saldo de todas as práticas de manejo gera uma média de 2 a 4 créditos de carbono por hectare nas propriedades participantes.
Em seguida, uma empresa credenciada pelo governo brasileiro faz a auditoria necessária para a certificação dos créditos. Todas as informações do sensoriamento são transmitidas para um blockchain para servirem como prova de reserva, pois os dados gerados possuem lastro. Cada CRVE (Certificado de Redução ou Remoção Verificada de Emissões) atesta a remoção de uma tonelada de CO₂ da atmosfera. Dentro dessa metodologia, os produtores recebem o equivalente a 19 dólares por CRVE, portanto, por tonelada retida ou removida da natureza. É dessa forma que eles são remunerados por suas práticas sustentáveis, retroalimentando a adoção de novas práticas.
Os produtores rurais Fábio Luiz de Carli, de Santa Helena-PR, e Tadeu Lewandowski, já receberam pelos seus créditos. "Nós mantemos 20% de reserva legal, conservamos a mata ciliar e adotamos manejo integrado na lavoura, então agora esse programa valoriza o que a gente preserva", opina de Carli.
Em sua área de 22 alqueires de lavoura, Tadeu Lewandowski recebeu pelos créditos de carbono o montante de R$ 106 mil reais em três safras e, por isso, se tornou um entusiasta do programa. No evento de consolidação, Tadeu subiu ao palco e entoou ao microfone sua experiência, além de recomendar as práticas conservacionistas para outros produtores rurais. “Há cerca de 15 anos plantei 280 árvores em meio a uma área de pastagens. Hoje estou sendo recompensado por isso, porque elas retêm CO₂ e ajudam a gerar os créditos de carbono”, relatou – e foi aplaudido pelo público.
No próximo mês de novembro, Tadeu e outros 377 produtores receberão valores dos créditos referentes à safra de inverno 2025. A estimava é que sejam distribuídos cerca de R$ 10 milhões em créditos aos cooperados aderentes ao programa. “Fomos a primeira Cooperativa brasileira a oferecer essa oportunidade para os cooperados receberem uma renda extra a partir dos créditos de carbono gerados nas suas propriedades rurais. Hoje os nossos associados que aderiram ao programa são referência em sustentabilidade econômica e ambiental”, enfatiza o diretor-presidente da Copagril, Eloi Darci Podkowa.
Ao todo, o programa abrange monitoramento de manejo sustentável em 25.241 hectares em municípios do Oeste do Paraná e do Sul do Mato Grosso do Sul.
Portanto, o programa é um estímulo à mudança cultural: valoriza o produtor que investe em sustentabilidade, gera renda extra, fortalece a economia regional e, ao mesmo tempo, contribui diretamente para a mitigação das mudanças climáticas.

A COP30 e o desafio global
No mesmo mês em que os produtores cooperados da Copagril celebrarão mais um ganho extra do programa acontecerá a COP30 em Belém, onde o debate sobre o papel da agricultura na redução de emissões ganha destaque mundial. Os países-parte do Acordo de Paris já assumiram metas de neutralidade de carbono até meados do século, e o setor agropecuário — frequentemente visto como vilão das emissões — passa a se posicionar como parte da solução.
O Programa de Crédito de Carbono Copagril mostra, na prática, que é possível conciliar produção de alimentos, preservação ambiental e desenvolvimento social. Ele simboliza a transição de um modelo agrícola historicamente associado à degradação para um modelo moderno, tecnológico e sustentável, em linha com os objetivos globais de enfrentamento das mudanças climáticas.
O Programa da Copagril ainda conecta-se diretamente a 12 dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), entre eles: ODS 2 - Fome Zero e Agricultura Sustentável; ODS 12 - Consumo e Produção Responsáveis; e o ODS 13 - Ação contra a Mudança Global do Clima. Esse alinhamento reforça que cada crédito de carbono gerado é um compromisso com as próximas gerações.

Um legado que conecta passado e futuro
Se os Pioneiros de Rochdale transformaram a sociedade industrial ao demonstrar a força da cooperação, hoje os produtores rurais, organizados em cooperativas como a Copagril, têm a missão de transformar a agricultura em aliada do Planeta.
O Programa de Crédito de Carbono Copagril é uma ponte entre a tradição cooperativista e os desafios do século XXI, capaz de gerar renda, proteger o meio ambiente e garantir que a produção de alimentos seja cada vez mais sustentável.
Assim como em 1844, quando a cooperação foi a chave para melhorar vidas, em 2025 e nos próximos anos, a cooperação será essencial para garantir um futuro melhor para todos.


Os 7 Princípios do Tadeu
Hoje é possível contar a história do Tadeu a partir dos 7 princípios do Cooperativismo:
1. Quando ele seguiu o exemplo do pai Venceslau e se tornou sócio da Cooperativa Copagril, em 1987, praticou a livre adesão;
2. Quando vota na Assembleia Geral Ordinária da sua Cooperativa, Tadeu participa da gestão democrática;
3. Quando recebe uma parte dos resultados do exercício, Tadeu exercita a participação econômica como membro;
4. Ao decidir quando plantar e quando colher, quando comprar e quando vender a sua produção agrícola, Tadeu pratica sua autonomia e independência;
5. Toda vez que ele se engaja em palestras e treinamentos da Cooperativa, ele recebe informação, educação e formação;
6. Ao produzir frangos pelo sistema de integração, Tadeu participa da intercooperação entre Lar e Copagril, fortalecendo o movimento cooperativista;
7. Quando integra o Programa Crédito de Carbono, adota um manejo sustentável e preserva a natureza, Tadeu pratica o seu interesse pela comunidade, pela humanidade e pela construção de um mundo melhor.


Por Carina Walker

Tadeu Lewandowski se tornou um entusiasta do programa e agora incentiva o uso de técnicas conservacionistas entre os produtores

A propriedade de Tadeu é modelo em sustentabilidade econômica e ambiental

Em novembro, Tadeu e centenas de outros produtores subirão ao palco novamente para receber seus certificados de créditos de carbono: o Programa Crédito de Carbono Copagril constrói um legado do cooperativismo para um futuro sustentável.



























Galeria de imagens